- Indústria Cultural e
Cultura de Massa.
A indústria cultural vende cultura. Para vendê-la, deve
seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode
chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar. Fazê-lo ter informações novas que
perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já
viu, já fez.
Fonte: Chauí, Marilena. Convite à filosofia, ed.
Ática, São Paulo,1995.
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Vale a pena, também, mencionar dois outros efeitos
que a mídia produz em nossas mentes: a dispersão da atenção e a
infantilização.
Para atender aos interesses econômicos dos
patrocinadores, a mídia divide a programação em blocos que duram de sete a
dez minutos, cada bloco sendo interrompido por comerciais. Essa divisão do
tempo nos leva a concentrar a atenção durante os sete ou dez minutos de
programa e a desconcentrá-la durante as pausas para a publicidade.
Pouco a pouco, isso se torna um hábito. Artistas
de teatro afirmam que, durante um espetáculo, sentem o público ficar
desatento a cada sete minutos. Professores observam que seus alunos perdem a
atenção a cada dez minutos e só voltam a se concentrar após uma pausa que dão
a si mesmos, como se dividissem a aula em “programa” e “comercial”.
Ora, um dos resultados dessa mudança mental
transparece quando criança e jovem tentam ler um livro: não conseguem ler
mais do que sete a dez minutos de cada vez, não conseguem suportar a ausência
de imagens e ilustrações no texto, não suportam a idéia de precisar ler “um
livro inteiro”. A atenção e a concentração, a capacidade de abstração
intelectual e de exercício do pensamento foram destruídas. Como esperar que
possam desejar e interessar-se pelas obras de arte e de pensamento?
Por ser um ramo da indústria cultural e, portanto, por
ser fundamentalmente uma vendedora de cultura que precisa agradar o
consumidor, a mídia infantiliza. Como isso acontece? Uma pessoa (criança ou
não) é infantil quando não consegue suportar a distância temporal entre seu
desejo e a satisfação dele. A criança é infantil justamente porque para ela o
intervalo entre o desejo e a satisfação é intolerável (por isso a criança
pequena chora tanto).
Ora, o que faz a mídia? Promete e oferece
gratificação instantânea. Como o consegue? Criando em nós os desejos e
oferecendo produtos (publicidade e programação) para satisfazê-los. O ouvinte
que gira o dial do aparelho de rádio continuamente e o telespectador que muda
continuamente de canal o fazem porque sabem que, em algum lugar, seu desejo
será imediatamente satisfeito.
Além disso, como a programação se dirige ao que já
sabemos e já gostamos, e como toma a cultura sobe a forma de lazer e entretenimento,
a mídia satisfaz imediatamente nossos desejos porque não exige de nós
atenção, pensamento, reflexão, crítica, perturbação de nossa sensibilidade e
fantasia. Em suma, não nos pede que as obras de arte e de pensamento nos
pedem: trabalho sensorial e mental para compreendê-las, amá-las, criticá-las,
superá-las. A cultura nos satisfaz se tivermos paciência para compreendê-la e
decifrá-la. Exige maturidade. A mídia nos satisfaz porque nada nos pede,
senão que permaneçamos para sempre infantis.
Fonte: Chauí, Marilena. Convite
à filosofia, ed. Ática, São Paulo, 1995.
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Atividade:
(UEL – 2006) “A
indústria cultural vende Cultura. Para vendê-la, deve seduzir e
agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo,
provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter informações novas que perturbem, mas
deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele sabe, já viu, já fez. A
‘média’ é o senso-comum cristalizado que a indústria cultural devolve com cara
de coisa nova [...]. Dessa maneira, um conjunto de programas e publicações que
poderiam ter verdadeiro significado cultural tornam-se o contrário da Cultura e
de sua democratização, pois se dirigem a um público transformado em massa
inculta, infantil, desinformada e passiva”. (CHAUÍ,
Marilena. Filosofia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000. p.
330-333.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre meios de comunicação
e indústria cultural, considere as afirmativas a seguir.
I. Por terem massificado seu
público por meio da indústria cultural, os meios de comunicação vendem produtos
homogeneizados.
II. Os meios de comunicação
vendem produtos culturais destituídos de matizes ideológicos e políticos.
III. No contexto da indústria
cultural, por meio de processos de alienação de seu público, os meios de
comunicação recriam o senso comum enquanto novidade.
IV. Os produtos culturais com
efetiva capacidade de democratização da cultura perdem sua força em função do
poder da indústria cultural na sociedade atual.
Estão corretas apenas as
afirmativas:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e IV.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.
QUESTÃO 2:
Theodor Adorno e Max Horkheimer, expoentes da Escola de Frankfurt,
seguidos depois por Baudillard, elaboraram uma teoria para o entendimento da
comunicação de massa. “Para eles, a “indústria cultural” era manipulativa e
destruía a esfera pública cultural e política que a burguesia construíra em
seus tempos heróicos. Sob a bandeira da democratização, ela era a contraface
totalitária da sociedade monopolista “liberal”, que partilhava com o fascismo a
estupidificação das massas, em função da decadência do proletariado, que fora
cooptado pelo capitalismo (...)A indústria cultural isola as pessoas e assim,
por sua atomização, dá cabo do indivíduo racional, com todas submetidas à
publicidade e o consumo dos mesmos produtos, frente aos quais a “liberdade de
escolha” nada mais é do que pura ilusão”.
(DOMINGUES, José Maurício. Sociologia e Modernidade. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001, p. 123).
A partir do fragmento acima, pode-se afirmar que:
(a)
A indústria cultural desenvolve-se a partir das
relações entre as empresas multinacionais, que, após a segunda guerra mundial,
atribui a cultura heterogênea o valor do desenvolvimento entre os países.
(b)
A cultura é vista como um fenômeno que pode ser
repartida, entre as grandes nações, com o apoio do Estado nacional, sem
direcionar para o princípio lucrativo do capitalismo.
(c)
A indústria cultural idealiza produtos adaptados ao
consumo das massas, assim como também pode determinar esse consumo trabalhando
sobre o estado de consciência e inconsciência das pessoas.
(d)
Karl Marx foi o primeiro pensador a usar o termo
“indústria cultural”, que traduzia na produção em série, as dinâmicas sociais
atreladas ao desenvolvimento cultural.
(e)
A televisão, e recentemente a Internet são as únicas
duas formas de indústria culturais que visam o lucro a partir de elementos de
propaganda que desenvolvem o capitalismo, como a publicidade.
Aguardando respostas nesse espaço, com nome, número, turma e colégio.
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